Um sonho quase impossível
Por: Aílton Sepúlveda
Fui uma criança muito pobre. Meu pai nos abandonou quando eu tinha um ano de idade e minha mãe, ficou com seis filhos totalmente desamparada. Meu avô e meus tios a desterraram e a deserdaram, porque eu e os meus irmãos éramos fruto de um amor “proibido”. Neste estado de pobreza e quase miséria, saímos de Minas Gerais para Salvador quando eu tinha dois anos. Estudávamos em colégio público num turno e no outro, frequentávamos oficinas para aprender um ofício. Assim, minha mãe tinha condições de trabalhar para nos sustentar e à noite com todos recolhidos no casebre, nos dava aula de religião, ética, higiene e civilidade, conferia deveres de casa, cozinhava, lavava, passava e ainda fazia lindos bordados à mão ou à máquina para completar a renda. Neste cenário, fui alfabetizado em casa e depois frequentei a escola primária São Vicente Paula, mas no terceiro ano primário abandonei os estudos.
Aos 16 anos, morando em Jequié com meu irmão mais velho, a situação era desconfortável e, numa noite em profunda solidão e incerteza da vida, refleti: O que serei no futuro?
O homem tem três caminhos para se estabelecer: herdando, roubando ou trabalhando. Analisei: herdar não podia, roubar é impossível, com os princípios éticos que fui criado. Só me restou o trabalho, mas em que? naquela noite decidi ser médico. Voltei para Salvador, estudei para admissão ao ginásio, fiz o madureza e ingressei na faculdade de medicina em 1968. Realizei meu sonho sem matar, roubar, traficar e sem me prostituir cheguei onde eu almejei.
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